30/03/2022

sobre cafés, ruas e mundos que acabam


 Quando recebi uma das notícias que mais balançou o meu mundo, estava sentada no meio-fio de uma rua que costumava amar passear, em frente a uma loja que sempre achei bonita, mas que tinha fechado recentemente.

Lembro que estava tomando um café que considerava ser um dos meus favoritos - só perdendo para o finado capuccino do Bloco 23 - e me recordo de ouvir a solene notícia e começar a sentir o café amargar e ficar ácido na minha boca. 

O meu mundo havia caído e tudo o que eu gostava estava entrando em decadência. E eu, que sempre sonhei em sair da minha bolha de conforto, pela primeira vez reparei que ela era cômoda. E a ver estourando doía. 

Um mês e meio depois, fui entrar no shopping de perto da faculdade e vi que a loja fechada não tinha acabado. Estava apenas em um endereço novo. Em um lugar grande e de destaque no shopping. O café também tinha aberto uma filial maior. Eu tinha me adaptado ao mundo brutal e estranho que se abriu para mim, e estava tentando mais uma vez realizar o meu sonho.

Fiquei pensando sobre isso desde então. Acho que o maior aprendizado que consegui extrair foi de que, os mundos em que vivemos não simplesmente acabam. Eles mudam, se adaptam, ficam pequenos demais para as nossas bolhas e vão procurar lugares maiores para habitarem. Mas eles nunca somem, só se somam com os novos que descobrimos. 

Não passeei mais naquela rua, mas descobri novas ruas tão agradáveis quanto. E eu sei que posso voltar lá quando quiser. 

Acho que é isso o que significa crescer.

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