18/02/2023

um guia não-oficial para encontros com você mesmo


Gosto de dizer que, por muito tempo, fui uma introvertida dentro do armário. Eu amava ir para a escola e conversar com o meu grupinho de amigos, mas os meus momentos sozinha sempre foram uma necessidade para recarregar as energias. Levei quinze anos de vida para em 2019 descobrir que esta é a exata definição de um introvertido. Não alguém antisocial; alguém que ama estar em companhia, mas que também ama os momentos de solitude. 

Sair da casa dos meus pais (e depois imigrar para outro país e continente) foi um processo que tornou esses traços de introversão ainda mais aparentes para mim. Eu adorava estar com os novos amigos da faculdade, mas tinha consciência de que eles tinham outros compromissos e rotinas, então precisava aprender a me divertir sozinha - e sem a minha mãe para eu convidar para sair. 

Foi assim como comecei um processo lento (porém muito prazeroso) de aprender a apreciar a minha própria companhia e sair para encontros comigo mesma. Hoje em dia, sair para encontros sozinha virou parte da minha rotina. E me alegra ver as minhas primeiras tentativas de viagens solo saírem muito bem. 

Este post é uma respota ao post que o Victor fez. Eu adorei a ideia dele de começar a sair em dates solo e posso dizer com propriedade que é uma atividade mais do que divertida. Também posso dizer que aprender a gostar da própria companhia é um processo lento, mas que vale totalmente os esforços. É com isto em mente que eu decidi dividir alguns conselhos que eu gostaria de ter ouvido quando comecei as minhas aventuras&peripércias sozinha. ;) Espero que isso seja útil!

  • Você vai se sentir ansiose no começo. E isto é perfeitamente normal. 
As minhas primeiras tentativas de saídas sozinhas eram sempre recheadas de ansiedade. Me sentia desconfortável por estar sozinha em público e ficava com medo de me acharem "estranha" por não ter ninguém comigo. Levou muito tempo para aprender a me sentir confortável nesta posição. 

O que eu aprendi foi a começar a trazer algo para me entreter e não pensar sobre o fato de eu estar sozinha. Levar livros na bolsa, um caderininho de desenhos, ter um podcast legal salvo no celular ou uma fanfic imperdível aberta no navegador foram muito úteis. Eu ficava tão entretida com o que estava fazendo que a falta de companhia ficava no segundo plano. 

Conversar com amigos pelo celular enquanto eu estava sozinha também ajudava muito. As "anotações" e piadinhas do "rolê" acabavam sendo compartilhadas e eu me sentia mais como alguém participando de algo.
  • Você não precisa sair em aventuras homéricas nas primeiras tentativas.
Eu sei. É lindo ver os TikToks de pessoas independentes que viajaram o mundo sozinhas aos vinte e um anos de idade. Mas essa simplesmente não é a realidade da maior parte das pessoas. 

Uma aventura grande requer muito planejamento e cuidado. Com certeza não é a melhor indicação para um primeiro date solo. Só comecei a fazer passeios maiores depois de quase um ano morando sozinha (e ainda tenho dificuldade em planejar tudo). 

O começo é realmente simples. Sair, pegar um café e ir bebericando na pracinha é um encontro ótimo para se fazer sozinho - tive dias maravilhosos fazendo isso. A clássica ida até o shopping para olhar os livros na livraria também é algo muito legal de se fazer sozinho. 

Saber que você não está muito longe de casa trás um sentimento de tranquilidade (e ninguém precisa saber que você está em um encontro solo, os outros podem pensar que você só está na pausa do trabalho ou fazendo uma parada antes de voltar para casa ;)). 

  • Saia da zona de conforto com calma. 
Ao contrário do que muitos coaches motivacionais dizem, não tem nada de errado em levar o seu tempo para sair da zona de conforto. Inclusive gosto mais de ir devagar. 

Quando eu finalmente me sentia confortável pegando cafezinhos na rua e indo para a livraria do shopping, comecei a me aventurar em dates médios: ir cortar o cabelo sozinha, ir no cinema, visitar uma biblioteca, passear em feirinhas de artesanato sozinha e ir em museus eram coisas muito divertidas. 

Geralmente esses eram passeios que tomavam uma tarde inteira para mim (como já disse, acho que sou uma pessoa mais lenta do que a média). O que era legal neles era que, essas saídas não eram coisas gigantes, mirabolantes e assustadoras, mas também não eram coisas rápidas. Foi um ótimo meio-termo entre coisas menores e maiores.

  • Segurança em primeiro lugar.
Lembre-se: andar sozinho é SEMPRE mais perigoso do que andar em grupo. Em qualquer lugar e em qualquer circunstância. E a sua segurança deve sempre estar em primeiro lugar. 

Quando saio sozinha, sempre tomo algumas precauções que considero indispensáveis. Ando sempre nas ruas principais e mais iluminadas dos lugares que estou, não fico fora de casa até muito tarde da noite e SEMPRE falo onde estou para alguém. Esse alguém pode ser os meus pais ou um amigo, mas sempre tem alguém que sabe exatamente onde estou e o que estou fazendo. 

Outra nota importante: como mulher e imigrante, deixo uma regra extra para mim. Eu nunca bebo quando saio sozinha. Sou uma pessoa muito fraca para bebidas alcóolicas e sei como elas têm a capacidade de me deixar (ainda mais) vulnerável. Minha escolha é ser extremamente cautelosa com bebida alcóolica. Better to be safe than sorry. 

Como estou começando a arriscar viagens solo, descobri uma nova medida de segurança no Instagram da Poliglota no Mundo: nunca deixo ninguém saber que estou sozinha na cidade. Digo que conheço amigos, tenho familiares que moram naquele lugar e - se sinto que é necessário - até mesmo digo que estou esperando pelo meu namorado. Eu nem sequer tenho um namorado, mas deixar claro para estranhos curiosos que eu não estou sozinha se provou uma medida de segurança muito efetiva. Divirta-se e curta o momento, mas nunca se deixe em uma posição vulnerável.

Ah, ainda no assunto viagens: prioriza sempre transporte público e enquanto estiver dia. Mais pessoas vão te ver e você ainda vai ter a luz solar para se guiar se algo muito ruim acontecer. Pegar Uber a noite é um dos meus maiores medos. 

  • Respira fundo, relaxa e aproveita o momento ;)
Sair para encontros com você mesmo é uma das coisas mais divertidas que eu já incorporei na minha vida. Sempre que um dia está ruim, saio para fazer alguma coisinha legal (pode ser até ir no mercadinho comprar leite) e o meu humor melhora para caramba. 

A sua companhia vale ouro e você merece momentos de diversão. Então curte o momento e faça todas as coisas que você sempre teve curiosidade mas nunca teve tempo para experimentar. Vai dar tudo certo, arrasa!

  • Bônus: a playlist que eu criei na minha última viagem solo - lembranças de muitos trens e referências de músicas dos Beatles.

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