No fim do terceirão, eu ganhei um apelido dos meus companheiros de ensino médio: orgulho da OMS. Parei de ir para a escola presencial no dia 13 de março de 2020 e, mesmo quando as aulas voltaram, escolhi ficar em casa até me vacinar. Até hoje, só saio de casa usando PFF2 e evito lugares muito aglomerados. Isso me fez perder uma boa parte do ensino médio e da adolescência, mas também permitiu que nem eu nem os meus pais ficassem doentes (e eu entendo que, no país que moramos, poder ter ficado tanto tempo em casa infelizmente é um privilégio).
É obvio que, nesses dois anos de reclusão, eu mudei. Passei tempo até demais com a minha própria companhia e reavaliei todas as partes da minha vida. Comecei a gostar de coisas novas, deixei outras (muitas) de lado e criei objetivos diferentes para mim. Ficar dois anos sozinha é completamente enlouquecedor, mas também é algo que te transforma.
Quando os primeiros sinais de luz no fim do túnel apareceram, eu me identifiquei totalmente com as tendências que eram anunciadas: eu queria diversão! Queria coisas coloridas, escapar dessa realidade tão cruel, sair ao máximo, viver novas experiências e aproveitar a vida para compensar os dois últimos anos.
E eu fiz isso. Com cuidado, mas fiz. O contador de experiências novas de 2022™ está explodindo com tantas coisas novas. Poderia fazer uma postagem com o tamanho de uma tese de doutorado só de novas vivências pós-vacina (já que pandemia ainda não acabou, vou dividir a minha vida em pré-vacina e pós-vacina). Só tem um porém: eu estou cansada.
Esta parte do texto faz menções rápidas a transtornos mentais e automutilação. Eu não faço nenhuma descrição destes e não me aprofundo no tema, mas acho importante sinalizar.
Todas essas coisas novas estão me deixando completamente exausta. As noites de sono não são mais reparadoras e os momentos de lazer não são mais relaxantes. Eu estou superestimulada e sobrecarregada. As cores estão vibrantes demais, os sons estão muito altos e as pessoas estão exageradamente positivas. E positivas de um jeito estranho: nós queremos viver a vida ao máximo, enchemos a cara e ficamos fora de casa até altas horas, mas também falamos diariamente sobre a morte, escassez e desmotivação.
Tenho a sensação que estamos em um momento eufórico, mas não verdadeiramente feliz. Estamos todos desesperados por contato humano e para sentir emoções, mas o mundo não poderia estar em um momento pior: direitos humanos sendo cortados, fascismo florescendo, catástrofe ambiental acontecendo...
No começo do ano, eu tinha a energia de um foguete. Agora sou apenas um fogo de artifício na velocidade máxima esperando desaparecer no céu escuro. Talvez todos nós precisamos desacelerar e tentar chegar em um ritmo mais saudável. Estamos vivendo entre extremos há quase três anos, isso cansa qualquer um.
Não quero dizer que isso é algo generalizado e não tenho nenhuma prova científica do que acabei de falar. Posso estar dentro de uma bolha muito específica de um grupo particular. Sou um adolescente com um blog, não um PhD em ciências sociais. Mas queria falar as minhas impressões sobre a vida pós-vacina aqui. E saber se tem alguém mais que também sente o mesmo.
Parentêses de observações sem embasamento nenhum:
- Tem muita gente dizendo que o aesthetic do Tumblr de 2014 está voltando. Eu não duvido. Por baixo de tantas camadas de laranja, roxo e verde vibrante, estamos todos exaustos e emocionalmente drenados depois de tantos anos que nos maltrataram. O Tumblr de 2014 era cheio de estampas de galáxia e emojis, mas também era um dos lugares mais sombrios da internet: a romantização da depressão, transtornos alimentares e automutilação estavam lá em peso. Confesso que tenho medo do rumo que a sociedade está tomando.
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